Festa de Criança

outubro 31, 2017



Me convidaram para uma festa infantil.
Sou filho único e na minha família inteira fui o primeiro a nascer, tanto por parte de pai, quanto por parte de mãe. As únicas festas infantis que participei foram as de meus primos e colegas de escola, todas ocorridas há mais de quinze anos. Meu melhor amigo foi pai no ano passado e eu não pude ir ao chá de bebê, mas confirmei minha presença no aniversário de 1 ano da criança. 

Por que estou explicando tudo isso? 
Porque você precisa ser contextualizado para entender o que aconteceu. 


Recebi o convite da festinha pelo facebook. Ok, já esperava que, com a praticidade de criar um evento na rede social o convite viesse por lá mesmo. O que me surpreendeu foi o tema da festa: salada de frutas. Eu sabia que estava desatualizado em relação às festas infantis, mas juro que pensei que os temas das festas continuavam sendo personagens, circo, dinossauros, fadas... Essas coisas que eram consideradas tendências na minha época. Chequei o evento umas três vezes para ter a certeza de que não havia lido errado. Francamente, "salada de frutas" é tema de festa de criança aonde, gente?

Depois de desistir de entender o tema da festa, resolvi sair para comprar o presente. Era uma menina e os pais são artistas, então pensei em dar a ela algo relacionado a pintura ou música. Entrei na maior loja de brinquedos da cidade, disposto a passar horas se fosse preciso, para comprar algo que ela realmente fosse gostar. 

Na primeira sessão da loja só havia bonecas. A maioria delas falava, andava, comia ou tudo isso junto de maneira autônoma. Fiquei me perguntando que graça teria para a criança ver o brinquedo brincar sozinho ao invés de poder brincar com ele. 
Na segunda sessão, os jogos entupiam as prateleiras. Achei bacana, mas ela só tem um aninho e não havia absolutamente nada adequado à idade dela, então passei para a sessão seguinte. Ali, vi tablets, celulares, notebooks infantis... Tudo com estampas de personagens e propagandas sobre a importância de estimular a inteligência das crianças. Eu acho que os fabricantes confundiram um pouco inteligência com alienação, mas não me cabia questionar ali. Simplesmente segui para o próximo corredor. 

Na quarta sessão havia brinquedos de montar, quebra-cabeças, carrinhos, helicópteros, aviões  até um barco de controle remoto. Peguei um dos pacotes com peças coloridas de montar só para garantir, caso não encontrasse o que tinha em mente. Segui para a sessão seguinte que estava repleta de brinquedos com peças minúsculas, completamente inadequadas para uma criança de um ano, então passei por lá bem rápido. 

Na quinta sessão vi alguns instrumentos musicais de brinquedo. Pensei ter encontrado, finalmente, o lugar certo. Mas o que havia lá era muito sofisticado, praticamente réplicas em miniatura dos instrumentos musicais de verdade. Queria algo mais simples, com o qual ela pudesse CRIAR. Aquilo não era o que eu esperava. 

Cansado de caminhar pela loja, fui até um vendedor e perguntei se havia algo com massinha de modelar ou pintura: 

- Ih cara, só vai encontrar isso em papelaria. Loja de brinquedo não vende essas coisas por aqui. - disse ele, tentando conter o riso.

Achei meio absurdo só venderem itens tão lúdicos em papelaria, mas resolvi deixar para lá. Fiquei com as peças de montar mesmo. Pelo menos ela poderia se divertir criando formas e descobrindo as cores. 

Dois dias depois era a festa. Cheguei ao salão meia hora após o horário marcado para o início e, logo na entrada, a recepcionista pediu o meu nome e o presente. Achei meio estranho não poder entregar o que comprei com tanto carinho para a menina em mãos, mas por uma questão de organização e praticidade para os pais, considerei a ação válida. 

Entrei e confesso ter demorado alguns segundos para perceber que realmente estava em uma festa infantil. A mesa principal mais parecia uma mesa de festa de casamento: um bolo de três andares todo confeitado com pasta americana estava no centro, cercado por doces super elaborados, brigadeiros para comer com colher, marshmallows espetados em palitos entre outras coisas dentro de tubinhos e caixinhas. Em cada lateral da mesa havia um pequeno armário de madeira sem porta, com sacolinhas entiquetadas com o nome da aniversariante e o tema da festa, além de copos de plástico coloridos e outros brindes. As bolas não faziam um arco elaborado ao fundo com um painel no meio, como eu esperava. Ao invés disso, estavam todas prensadas em uma espécie de colmeia formando um desenho o qual não fui capaz de identificar. 

Passado o susto inicial, fui me sentar. Reparei que não havia no salão a tão amada carrocinha de lanches com batatas fritas, hambúrgueres, pipocas e outras guloseimas. O animador da festa também não fez a brincadeira do "Bento que bento é o frade!". Fiquei um pouco desapontado, porque tinha levado diversos itens para ajudar as crianças a ganharem brindes nesta gincana. 

A aniversariante e seus pais chegaram à festa e entraram no salão com toda pompa, com direito a clipe, fumaça e show de luzes. Achei um pouco exagerado, principalmente porque fez a menina chorar, mas deixei para lá. Pelo menos ela estava vestida como criança, o que me deixou aliviado mediante tantas surpresas. 

Na hora do parabéns, a pequena aniversariante trocou de roupa e fez mais uma entrada hollywoodiana - na qual chorou novamente - e foi submetida a exatos 8 minutos de parabéns. Eu achava que a música da Xuxa era o maior parabéns possível de ser tocado em uma festa infantil, mas parece que o DJ resolveu bater este recorde com um mix de Patati Patatá, Galinha Pintadinha e Aline Barros. E a equipe do salão passou os 8 minutos irritantemente animada gritando por todos os cantos imagináveis. 

Após o parabéns, as crianças receberam as sacolinhas e brindes que estavam nos armários e as pessoas começaram as despedidas. Aproveitei o momento e saí também. Mas durante todo o caminho até minha casa fiquei me perguntando qual a graça que aquelas pessoas viam naquele tipo de festa. 

Fala sério, cadê os docinhos enroladinhos? Cadê o bolo repleto de chantilly e granulado? Cadê o arco de bolas no final para ser estourado desesperadamente pelas crianças? E os saquinhos surpresa?! Alguém me explica de quem foi a péssima ideia de abolir os saquinhos surpresa das festas infantis?! Não tinha ninguém fazendo todo tipo de figura com bolas de gás, não tinha brinquedo na mesa do bolo e, para completar, as crianças passaram metade da festa pedindo para substituir as músicas infantis pelas músicas da Anitta (nada contra a Anitta, mas não é exatamente o tipo de trilha mais interessante para colocar numa festa de 1 ano, né?). 

Fiquei tão indignado que contei tudo ao meu cachorro quando cheguei a casa. Tenho certeza de que, se ele soubesse falar, concordaria comigo e ainda perguntaria o que os adultos de hoje resolveram fazer com a infância das crianças. 


Mundo doido. Eu, hein! 

You Might Also Like

0 comentários

Deixe aqui seu comentário.
Lembre-se que respeito é fundamental.

Últimos Posts