Um jovem casal de namorados procurava um lugar para comer em um domingo à noite, no Rio de Janeiro.

Mas tinha que ser barato, porque sabe como é, a crise pegou de jeito a Classe C, né?

E tinha que ser rápido também, porque já passava das 22h e não era muito bom ficar zanzando de carro a essa hora na Cidade Maravilhosa. 

Entraram em uma rua repleta de bares e restaurantes.

O primeiro tinha pinta de bacana. Com certeza uma água mineral custava tudo o que eles poderiam gastar com a refeição inteira. 

O segundo era meio restaurante, meio balada. Eles estavam cansados e mal vestidos demais para isso.

O terceiro estava tão lotado que, àquela hora, ainda tinha gente na fila do lado de fora para entrar.

O quarto tinha uma cozinha de aspecto duvidoso.

O quinto estava fechado.

O sexto era um drive-true de uma rede famosíssima de fast food. E eles tinham cupons dentro do porta-luvas para ganharem desconto no pedido. Era perfeito.

Decidido o local, o rapaz embicou o carro para a pequena fila formada por outros carros cujas pessoas também deviam estar numa situação parecida com a do casal. 

Levaram menos de cinco minutos para escolher os combos que queriam. Muita batata-frita para a moça, cheddar caprichado para o rapaz. Não eram escolhas muito saudáveis, eles sabiam disso, mas a fome era totalmente desproporcional à quantia de dinheiro disponível naquele momento. 

Dez minutos depois de terem entrado na fila ainda não tinham andado nem dez metros. As barrigas roncavam mais alto até do que o rádio do carro. Foi quando, de repente, a moça disse:

- Ei, que dia é hoje?

- Domingo, amor - respondeu o rapaz

- Não, não. Que dia do mês é hoje?

- Aaaah, sim. Hoje é... CARAMBA! Hoje é dia 03! Eu esqueci completamente, amor. Desculpa!

Depois de dar uma sonora risada, a moça respondeu ao apavorado namorado:

- Tudo bem, amor. Eu também esqueci completamente.

Após um breve silêncio, o rapaz replicou:

- Isso não está certo. Como a gente pôde esquecer do nosso dia? 

- Ei, tá tudo bem mesmo. Eu não fiquei chateada. Essas coisas acontecem. - tentou tranquilizar a moça.

- Não. Não deveriam. A gente tá sempre correndo de um lado para o outro. Parece que se não estiver anotado na agenda do celular não somos capazes de lembrar nem de comer!

A moça pensou por um momento e foi obrigada a concordar. Não era certo ficar tão envolvido com o ritmo frenético da rotina a ponto de esquecer uma data especial para os dois. Mas preferiu não verbalizar o pensamento. Ao invés disso, deitou no ombro do namorado, que recostou sua cabeça sobre a dela.

- Queria ter preparado algo especial para hoje. Desculpa. - disse o rapaz em tom triste.

Foi aí que a moça reparou no céu. Estava inteiramente estrelado, lindo, sem uma nuvem sequer que pudesse atrapalhar a contemplação das constelações e da lua. Ainda deitada no ombro do namorado, ela perguntou:

- Qual foi a última vez que nós olhamos as estrelas juntos? 

O rapaz levantou a cabeça e tirou a namorada sutilmente de seu ombro porque a fila, finalmente, tinha começado a andar. Ao parar o carro novamente, respondeu: 

- Também não consigo me lembrar. Acho que já faz um bom tempo. 

Recostaram as cabeças em seus respectivos bancos e puseram-se a olhar o céu. Ficaram desse jeito até chegar sua vez de fazer o pedido. Ao pegar os lanches e conferir tudo, o rapaz disse:

- Ei, não come agora. Vou te levar para um lugar. 

Sorrindo, a moça concordou. Sabia que ele não a decepcionaria. 

Entraram e saíram de ruas até chegarem a um morro que tinha vista para toda a cidade. Não era super seguro, mas ficava próximo a um local bem movimentado, então o rapaz achou que não haveria problema em arriscar só um pouquinho. Era a chance de fazer algo especial.

Pararam de forma a terem a melhor visão da cidade abaixo e do céu acima. Ajeitaram os bancos reclinando-os levemente para trás e abriram os lanches. Comeram olhando as estrelas e as luzes das construções, ouvindo a playlist que montaram juntos com as músicas que faziam parte de sua história. Riram sozinhos, trocaram beijos cheios de carinho, roubaram pedaços do lanche um do outro. 

Quando acabaram de comer, finalmente saciados, saíram do simples refúgio improvisado. O rapaz dirigiu até a casa da moça. Chegando lá, ao se despedir entre beijos, ela disse: 

- Hoje foi o jantar mais romântico que já tivemos. 

Ele sorriu depois que ela passou pelo portão. Também sentia a mesma coisa. Naquela noite os dois aprenderam que o amor é muito mais simples do que as pessoas pensam e que quem faz os momentos valerem a pena somos nós mesmos. Tudo estava perfeito.